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  • Livia Ribeiro

PokéPlantGO: quando escutamos as crianças, ideias maravilhosas podem surgir


“O que vocês querem fazer nas próximas aulas?”

Foi assim que começou mais uma das aulas de sustentabilidade que a Thatiana Passi e eu damos para alunos de 6 a 10 anos em uma escola bilíngue em São Paulo.

“Queremos jogar Pokémon Go!”

Essa resposta foi de alguma forma esperada, já que esse jogo é uma das maiores febres que vimos nos últimos tempos.

Podíamos ter parado por aí e explicado os vários motivos de não ser possível jogar Pokémon Go dentro das aulas de sustentabilidade.

Porém, nós tínhamos um motivo real e genuíno para aquela pergunta inicial: queríamos de fato ouvir as ideias e vontades das crianças. E mais ainda, reconhecer e valorizar todo o conhecimento e criatividade que as crianças nos trazem.

Foi a partir desse evento que nasceu a ideia do PokéPlant Go, um jogo baseado em realidade aumentada, com o objetivo de capturar plantas invés de Pokémons.

Para começar, baixamos e aprendemos a jogar o tal Pokémon Go (que nem eu, nem a Thatiana, tínhamos a mínima ideia de como funcionava). Conversamos com alguns jogadores, desenvolvemos todas as regras, fizemos um inventário das plantas da escola, criamos PokéStops (pontos físicos onde você coleta itens úteis para o jogo) e até mesmo construímos um celular de papelão.

De forma geral, o jogo tem como objetivo capturar as plantas que cada grupo recebe como “missão” em seu Pokédex (uma espécie de álbum). Mas, claro, que capturar as plantas não significa arrancá-las.


Primeiro, eles tinham que achá-las. Só essa etapa já foi uma experiência incrível. As crianças exploraram os espaços da escola de uma forma diferente do que faziam até então. Eles conheciam os lugares, mas nunca repararam nas plantas que haviam por lá. “Nossa teacher, não acredito que tem pé de café na escola, eu nunca tinha visto!” (C., 6 anos)

Depois de acharem as plantas, eles tinham que responder a um desafio que estava afixado em cada uma delas e que não envolvia apenas o conhecimento prévio dos alunos. Eles também tinham que interagir com as plantas, cheirá-las, tocá-las, colocar a mão no solo, procurar insetos e etc.

Terminando a aula, perguntamos a eles o que acharam, o que aprenderam e o que sentiram com o jogo.

"Além de se divertir, a gente interagiu com a natureza e aprendemos um monte de coisa. Eu percebi que as plantas são MUITO diferentes uma das outras. Você sabia que tem criança viciada nessas tecnologias teacher? Todas elas deveriam sair do celular e vir jogar PokéPlant Go com a gente. " (G. 8 anos)

Para mim, o mais relevante nessa história foi a possibilidade de dar voz aos alunos. A ideia deles foi levada em consideração e colocada em prática. Eles tiveram a chance de participar da construção de algo, opinar e dar ideias para melhorar o que foi feito. Viveram tudo com muita intensidade e significado.

Deixo, por fim, uma reflexão: o que mais que nossos alunos estão falando e nós perdemos a oportunidade de escutá-los?

“O espaço do educador democrático, que aprende a falar escutando, é cortado pelo silêncio intermitente de quem falando, cala para escutar a quem, silencioso, e não silenciado, fala.” (Paulo Freire).

*Projeto realizado na escola Builders Educação Bilíngue: www.builders.com.br

Observação: Haviam outras regras, desafios e interações no jogo. Se alguém quiser saber mais, entre em contato comigo pelo e-mail livia@reconectta.com que posso passar todo o material que preparamos.

Referências:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed., São Paulo: Paz e Terra, 2011.


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